A xilogravura é uma técnica milenar que apresenta várias possibilidades artísticas a partir de gravuras, especialmente para quem gosta de entalhar madeira.
Ela também serve para imprimir diferentes conteúdos em papel ou tecido, como carimbo.
A tradição da xilogravura se difundiu pelo mundo e ganhou admiradores, que continuaram o seu desenvolvimento até os dias atuais.
Ela é considerada uma técnica fundamental para a cultura e artesanato nordestino.
Fazer a xilogravura não é tão difícil como parece, mas exige foco e dedicação para se aprimorar na arte de fazer gravações em madeira. É possível começar com gravuras simples e pequenas, e depois partir para trabalhos maiores e mais elaborados.
O que é xilogravura?
Xilogravura é uma arte antiga que se define pela produção de uma matriz a partir de uma gravura entalhada em madeira.
Essa matriz possibilita a reprodução de uma mesma gravura em diferentes superfícies, utilizando tintas por cima do desenho entalhado na madeira em alto relevo. Dessa forma, uma arte gravada ou entalhada em uma placa de madeira pode servir como uma espécie de carimbo.
A gravação da figura na madeira acontece com pequenas goivas que vão moldando o desenho na superfície plana. E a próxima etapa é colocar a tinta por cima da imagem entalhada para que ela possa ser reproduzida em papel ou em tecido.
Onde surgiu a xilogravura?
Sabe-se que o aparecimento da xilogravura remonta ao século V ou VI, cujos primeiros trabalhos foram encontrados na China, em ilustrações de livros.
Depois essa técnica foi para o Japão e floresceu na Europa, sendo utilizada para a produção de obras famosas e foi ganhando efeitos diferentes no decorrer do tempo.
Quando a xilogravura chegou ao Brasil?
A xilogravura que fazia parte da cultura medieval portuguesa, chegou ao Brasil no período colonial com a vinda progressiva dos portugueses para cá.
Ela se popularizou no Brasil nas décadas de 60/70, pois o conceito de xilogravura apareceu no século XX, ganhando destaque também no meio acadêmico.
Como fazer xilogravura em madeira
Veja agora como fazer artesanato com madeira, utilizando essa técnica incrível:
Use uma placa de madeira que facilite o seu trabalho, como é o caso de um compensado naval, fácil de encontrar em madeireiras.
Preparação da madeira
Passe as lixas nº 36, 80 e 180, nessa ordem, sobre a superfície da madeira para prepará-la. Em seguida, para deixar a madeira como uma chapa, totalmente lisa e sem poros abertos, passe uma camada de goma laca.
Para isso, faça um preparado líquido, misturando álcool 70 ou 90 com a goma laca, numa proporção meio a meio.
Busque fazer uma camada bem fina, evitando ter caroços/bolas no líquido, para não deixar marcas.
Espere secar e, após a aplicação, comece a lixar a madeira com uma lixa nº 400.
Depois, corte a madeira no tamanho desejado para o seu desenho.
Desenho
O passo a passo para fazer a passagem do desenho para madeira consiste em usar um desenho sobre um papel sulfite, colocando papel carbono entre o papel sulfite e a madeira.
Use fita crepe para prender os papeis e risque com caneta o contorno do desenho, assim, ele será marcado na madeira pela tinta do papel carbono.
Entalhe
A etapa do entalhe vai precisar de goivas e pedra para amolá-las. É importante ter goivas de diferentes tamanhos e espessuras. Cada uma terá uma especificidade para fazer um tipo de traço e textura.
O entalhe é feito a partir da técnica de redução, tirando as partes de impressão do desenho, seguindo os contornos feitos no papel anteriormente.
Lembre-se de afiar as goivas com a pedra de amolar para começar o trabalho.
Veja o passo a passo do Nicolau Mello e tente reproduzir em casa:
Como fazer xilogravura isopor (ISOGRAVURA)
O primeiro passo é fazer um desenho no isopor, colocando muita força para fazer o vinco.
Faça isso com um lápis e depois use uma caneta para marcar bem e, em seguida, aplique tinta preta em cima do desenho.
Coloque a folha sulfite em cima da obra com a tinta preta úmida e deixe o papel bem rente ao isopor, deslizando a mão sobre ele de maneira homogênea. Depois de um minuto tire o papel e veja o seu desenho impresso nele.
Assista ao tutorial do canal Rafael Vieira Jr para conferir todos os detalhes:
Xilogravura de cordel
A xilogravura de cordel retrata figuras relacionadas ao que se chama de literatura de cordel, ilustrando histórias populares relacionadas com o imaginário nordestino.
Muitos xilógrafos e cordelistas são considerados artistas complementares, dois lados de uma mesma moeda.
Antigamente, como a xilogravura já era utilizada para a impressões de vários materiais, como ilustrações de livros e anúncios de jornais, com o cordel não seria diferente.
Os cordéis eram impressos em folhetos e muitos artistas que escreviam cordéis também faziam suas próprias ilustrações através dessa técnica.
As temáticas mais conhecidas que fizeram e ainda fazem parte desse universo, eram: o cotidiano do homem nordestino, o cangaço e a luta do povo no sertão.
Xilogravura nordestina
A xilogravura popular do Nordeste se destacou com a originalidade dos artistas nordestinos, que desde muito tempo ilustravam suas histórias e tradições culturais.
Para além dos cordéis, muitos xilógrafos vendiam suas gravuras soltas porque eram considerados produtos de extrema qualidade e valor artístico. E até hoje essas gravuras em madeira são feitas por artistas nordestinos que usam a xilografia como expressão artística e cultural.
É importante ressaltar que a maioria dos xilógrafos brasileiros são nordestinos e isso mostra a importância desta cultura e da sua expressão popular proveniente do cordel.
Entre os artistas principais, estão: Abraão Batista, Amaro Francisco, José Loureço, Gilvan Samico e José Costa Leite.
Qual a importância da xilogravura?
Existem muitos motivos para valorizar e apreciar a xilogravura como uma das principais técnicas milenares que perduram até hoje.
Primeiramente, a xilogravura possibilitou a impressão de ilustrações manuais pelo mundo, antes da invenção da máquina de imprensa. O uso dessa técnica também possibilitou a criação e a propagação de conteúdos culturais, com destaque para a literatura de cordel no Brasil.
A literatura de cordel em xilogravura, inclusive, é considerada e reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.
Apesar de ser uma técnica trabalhosa e detalhista, a xilogravura se utiliza de materiais baratos e fáceis de encontrar. As pessoas do sertão nordestino contavam com uma produção barata, ilustrando cordéis em xilogravura, que eram pendurados em cordas/barbantes, como roupas no varal.
Essa tradição possui mais de 100 anos e continua sendo muito importante para a cultura popular brasileira.